Segunda, 25 de abril de 2022
O trabalho voluntário tem um papel fundamental para a construção do bem-estar comum e alcance de interesses coletivos. Trata-se de uma iniciativa da sociedade civil de exercer a cidadania ativa, contribuindo para o atendimento das demandas de diferentes camadas sociais.
Contudo, embora tenha grande relevância é observável que o voluntariado não recebe a valorização que deveria. Essa situação vem apresentando mudanças devido a pandemia de Covid-19, que intensificou a importância de ações focadas em atender os menos favorecidos. Continue lendo para entender melhor a questão em nosso país.
Antes da pandemia de Covid-19, o trabalho voluntário era uma tendência em baixa no Brasil. Porém, o sentimento de urgência em ajudar o próximo em uma situação tão extrema contribuiu para que aumentassem as ações focadas na mobilização para recebimento e distribuição de alimentos e itens de higiene.
No ano de 2019, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) identificou que havia 6,9 milhões de pessoas no Brasil realizando trabalho voluntário. No ano anterior, 2018, esse número estava na casa de 7,2 milhões.
O número de 2019 representa apenas 4% da população, ou seja, é uma parcela muito baixa, especialmente se compararmos com outras nações. Por exemplo, nos Estados Unidos a parcela que realiza trabalho voluntário é de mais de 30% da população.
Em parte, os números baixos são reflexos da desvalorização do trabalho voluntário no Brasil. Podemos iniciar a análise observando que esse tipo de atividade não é incentivada nas redes de ensino. Isso significa que os jovens estudantes não têm contato com o voluntariado, de maneira que não iniciam a construção da relação com o auxílio ao próximo.
Além disso, para muitas pessoas parece quase impossível conciliar a sua rotina com o voluntariado. O desconhecimento das diferentes formas de trabalho voluntário contribui para essa crença.
Ainda que não tenha tanto tempo disponível, existem formas de ajuda que podem ser oferecidas. Muitas pessoas, por exemplo, descobriram durante a pandemia que seus conhecimentos tecnológicos poderiam servir para colocar em contato quem precisa de ajuda com quem pode ajudar.
Muitas empresas, por sua vez, não incentivam seus colaboradores a dedicar parte de seu tempo para o voluntariado. Iniciativas simples, como liberar os profissionais mais cedo alguns dias por mês ou investir em atividades solidárias, permitem construir essa ligação com o voluntariado. A mídia também pode assumir um papel mais ativo para tornar o voluntariado um tema mais em voga.
De acordo com um relatório divulgado pela plataforma Atados, que conecta quem deseja realizar voluntariado com quem precisa, nos três primeiros meses da pandemia de Covid-19 houve o aumento de 43% de inscritos em comparação com o mesmo período de 2019.
A pandemia tornou as desigualdades sociais ainda mais evidentes e destacou como as populações vulneráveis foram mais afetadas. Logo, tornou-se emergencial tomar iniciativas rápidas e pontuais. Essa situação funcionou como um catalisador para aumentar a propensão dos brasileiros de se engajarem em ações solidárias.
Segundo o estudo “O Brasileiro e a Solidariedade” realizado pelo Locomotiva, em 2020, 27% da população brasileira realizou alguma ação solidária. Isso significa que mais de 117 milhões de pessoas realizaram ações voluntárias. A pandemia serviu como um holofote para situações sociais que já existiam. O grande desafio é manter o interesse dos brasileiros pelo trabalho voluntário após o ápice da pandemia.
O ser humano tende a se engajar mais em ações sociais diante de crises e catástrofes naturais. No entanto, é importante manter esse foco, afinal as pessoas em situação de vulnerabilidade ainda precisam de ajuda. O ideal é aproveitar o momento em que as pessoas ainda estão sensibilizadas para estimulá-las a se manter ajudando.
O voluntariado é uma atividade que enfrenta uma série de desafios e que tem uma longa história. No decorrer do tempo, os desafios foram mudando, se moldando de acordo com as necessidades de cada período.
Para se ter uma ideia, os primeiros registros de trabalho voluntário no Brasil remontam ao período da colonização. Essas atividades eram realizadas em unidades de saúde, como a Santa Casa de Misericórdia que foi fundada em 1543.
O trabalho voluntário foi entendido como uma atividade essencialmente feminina até o século XX. Era comum que as mulheres de famílias ricas se engajassem em trabalhos voluntários. Por muito tempo, o trabalho voluntário esteve relacionado à caridade, as pessoas acreditavam que bastava fazer doações ou aparecer uma vez em um evento beneficente e haviam feito sua parte.
Embora doações sejam importantes, é essencial esclarecer que o trabalho voluntário vai muito além dessa configuração. Foi apenas na década de 1990 que o trabalho voluntário foi regulamentado através da lei nº 9.608/1998. Segundo a legislação, se trata de uma atividade não remunerada realizada por pessoa física com objetivos cívicos, científicos, educacionais ou recreativos de ajuda à pessoa.
Nos últimos tempos, o trabalho voluntário passou a estar mais relacionado a uma paixão por uma causa. Anteriormente, havia uma ligação mais forte a uma instituição, porém, atualmente, os voluntários mudam de organização, mas prosseguem no auxílio à causa.
Ainda há prevalência feminina na realização do trabalho voluntário, elas representavam mais de 73% dos inscritos da plataforma Atados em 2019. Em 2021, as mulheres são 68% dos inscritos. O grande desafio do trabalho voluntário no Brasil é não ficar restrito a ações pontuais. Todos fazem parte da sociedade e podem ajudá-la a se transformar.
Ainda há desvalorização do trabalho voluntário no Brasil, mas sua importância vem sendo mais reconhecida.